queijos

A bisnaga de queijo fundido

A kraeuterkaese é um clássico das nossas delicatessens

Robert Halfoun
Curador


Eu era uma criança, nos anos 1970, quando, todo sábado pelas manhãs, meu pai me levava para um ritual: ir até a hoje extinta delicatessen Dibracco, no Leblon, no Rio, para comprar as gostosuras para o fim de semana. 

 

 

Iam para a sacola uns embutidos, pão preto, cervejinha importada, um creme de ricota feito por lá que ele adorava e a tal da bisnaga de queijo fundido com o nome que eu mal conseguia pronunciar mas era ótimo de falar exagerando no acento alemão: crrrróooooiter-quêze!

 

Eu achava que ele vinha importado da Alemanha (estava enganado) numa bisnaga que parecia de pasta de dente. Eu ficava fascinado com aquela embalagem. E depois com o gosto forte do parmesão fundido misturado com a erva que dá nome ao queijo.

 


Ao espremer o tubo, a gente não percebe que a planta está lá... Até colocar na boca. Fica uma delícia com o que você imaginar. Especialmente com torradinhas de brioche, que têm aquela notinha adocicada. 

 

Na época, naturalmente, eu não bebia. Mas hoje, posso garantir: a combinação com um bom Gerwürtraminer faz crescer asas nas suas costas.


 

Embora trouxesse todas as características de um produto germânico, o kraeuterkaese começou a ser produzido por aqui, há 40 anos, na cidade de Pomerode, em Santa Catarina.

Era lá onde morava o Seu Opa, na verdade Guilherme Ziehlsdorff. 

 

Ele era um apaixonado por queijos. Tanto que, em 1948, lá foi ele, a bordo de um surrado Ford Mercury, rumo a Juiz de Fora, em Minas, para participar de um curso com mestres-queijeiros que tinham vindo da Alemanha. 

 

 

A viagem durou três dias, mas valeu a pena. Aprendeu a fazer o queijo fundido com a planta que dá nos Alpes suíços e o produziu até vender a sua empresa, aos 82 anos.

 


Hoje, a receita do Seu Opa é reproduzida à risca pelos Laticínios Pomerode, criado em 2002, pela família Mendes, criadora da Cervejaria Eisenbahn, de Blumenau. Recentemente, eles renovaram o visual da bisnaga (um fetiche para quem gosta de design) e introduziram novos sabores – com tomate seco, cebola, pimenta Sriracha. E, por razões comerciais, diminuíram o tamanho da “kraeuterkaese”, dando destaque para o nome “creme de parmesão”.

 

Para mim, no entanto, a bisnaga será sempre a “crrrróooooiterquêze!”, que eu como desde moleque.